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TRADICIONAL GUERRA DE ESPADAS É TEMA DE DEBATE NA ASSEMBLEIA

Foto: Juliana Andrade - ASCOM

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altando pouco mais de sete meses para a Festa de São João, começa a mobilização de parlamentares, gestores públicos, pesquisadores, juristas, peritos e dirigentes de associações para manter viva a tradição da guerra de espadas, proibida na Bahia desde 2011 por iniciativa do Ministério Público, decisão que foi acatada pelo Tribunal de Justiça (TJ-BA) e confirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Na Assembleia Legislativa, a Comissão de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia e Serviços Públicos realizou nesta quinta-feira (4), nas salas Herculano Menezes e Luís Cabral, uma audiência pública híbrida intitulada “A Criminalização da Cultura da Espada no Estado da Bahia”, para debater a regulamentação da atividade e a sua relevância para os setores envolvidos em diversos municípios.

Proponente da reunião, o deputado Jacó Lula da Silva (PT) disse que a guerra de espadas é um bem histórico e um patrimônio da cultura baiana. Para o petista, “esse movimento, esse modo de ser do nosso povo” está sendo atacado, perseguido de uma maneira injusta e a Casa Legislativa se sente “honrada e orgulhosa” de discutir soluções para resolver a questão que afeta milhares de pessoas desde o subúrbio de Periperi, na capital, até cidades do Recôncavo e do Sertão. “Estudos demonstram que a fabricação das espadas não é feita apenas para a diversão e manutenção da cultura, mas revela-se como fator de extrema importância socioeconômica, uma vez que sua produção, comercialização e consumo pode ser encarada como estratégia da população trabalhadora para superação de problemas financeiros”, ressaltou o parlamentar.


Direto da plataforma Zoom, Filipe Cezarinho, doutorando em História pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, falou sobre “A introdução, contextualização e importância da Guerra de Espadas”. Além de gerar renda, no momento de fabricação das espadas, o pesquisador apontou saberes populares tradicionais que podem ser caracterizados como patrimônio cultural e imaterial. “Através da oralidade, foram e são aprendidas formas complexas de extração do barro, do bambu, feitura da pólvora, desenvolvimento de habilidades matemáticas e mistura de composições químicas, ensinamentos que transitam por gerações, sem que haja um único dono, já que o segredo está na reciprocidade”, salientou.


DIÁLOGO SEMPRE

Jânio Roque, professor titular da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), fez um relato sobre “As Espadas de Fogo no contexto da diversidade das festas juninas”. Para ele, devem ser observadas as peculiaridades da manifestação que movimenta os municípios em meses específicos, mas pode potencializar o turismo ecológico e religioso em outros períodos do ano. Em seguida, o coronel da reserva da Polícia Militar, José Anselmo, que em 2012 era comandante do Batalhão da PM em Senhor do Bonfim, contou a respeito de sua experiência, na época, em dialogar com os órgãos da justiça, os espadeiros e a sociedade para que a tradição da guerra de espadas pudesse ser organizada na cidade, embora nos espaços delimitados.


A audiência deu uma rápida pausa nos pronunciamentos e exibiu o vídeo “Guerra de Espadas: uma tradição não se apaga”, filme produzido por Bel Fagundes, mostrando a manifestação com a alegria dos espadeiros, a beleza dos artefatos iluminando a noite e a confraternização popular que contagia a todos. Parlamentares do Partido dos Trabalhadores marcaram presença na sessão e avaliaram que a criminalização desse espetáculo no São João não resolve nada. “Precisamos discutir com o Judiciário, com o Ministério Público, com a Polícia Militar, com todos esses agentes, para que a gente possa caminhar na direção de preservar essa cultura e essa cadeia produtiva fundamentais para tantas pessoas na Bahia, participando sempre de forma segura”, declarou o deputado Marcelino Galo, presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da ALBA.


O deputado Robinson Almeida (PT) confessou que aos dez anos conheceu uma espada e ficou muito impactado. Ele defendeu “um debate aberto, sem preconceito, com todos tendo maturidade para entender que o uso de fogos de artifício faz parte da cultura popular. Defendemos adequar espaços, com disciplinamento, mas queremos manter viva esta tradição que gera postos de trabalho e satisfação para a população”.


PERSEGUIÇÃO

Rodrigo Gomes Wanderley, cientista social, lembrou que a história do Brasil é repleta de casos que atestam a criminalização da cultura popular. “Foi assim com a capoeira, o samba, a vaquejada e as religiões de matriz africana. E não está sendo diferente com a Guerra de Espadas, que também é perseguida”, acrescentou o antropólogo. Darlan Valverde, presidente da Associação Cultural dos Espadeiros de Senhor do Bonfim, considerou importante que esteja ocorrendo esse debate agora, de uma maneira coerente, mas lamentou que “esse drama cultural seja uma situação recorrente, sem uma solução definitiva por parte das autoridades e da justiça”.


Cléo Rocha e Rosângela Silva, lideranças do movimento de espadeiros, fizeram pronunciamentos pregando a união para que seja possível organizar a festa nas cidades sem afrontar ninguém, mas apenas com o intuito de preservar a tradição.


George Nascimento, perito e assistente técnico em perícias, discorreu a respeito do parecer técnico de exame no artefato espada. Os juristas Antônio Sergio Gonçalves Reis e Vagner Santana Reis apresentaram aspectos jurídicos e apontaram quais os caminhos para regulamentação da cultura de espadas. Danilo Faleiro, chefe de gabinete do deputado Rogério Andrade Filho (PSD), o deputado Pedro Tavares (DEM), Benito Brasileiro, representante do Governo do Estado, o prefeito de Senhor do Bonfim, Laércio Muniz, o presidente da Câmara Municipal de Cruz das Almas, Thiago Chagas, e muitos vereadores dos dois municípios participaram da audiência, transmitida ao vivo pela TV ALBA e redes sociais do Parlamento baiano.


“A guerra da espada é a cultura do São João, a maior festa democrática e participativa do nordestino. Nós não podemos aceitar como cordeirinhos” decisões equivocadas, seja lá de quem for, porque pessoas do bem, pais e mães de família, não devem ser criminalizadas por uma manifestação que traz a essência da cultura do povo. Precisamos de regulamentação e adequação na fabricação do artefato, com regras seguras. Queremos, enfim, mais geração de emprego e renda”, concluiu o deputado Jacó.


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