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Pastor evangélico que fez música intolerante às religiões de matriz africana pede perdão ao vivo; "não tenho nada contra"


O “Pastor Irmão Júlio”, compositor da música que cita divindades do candomblé e da umbanda, pediu perdão, ao vivo, nesta sexta-feira (15/7), durante o programa Cidade Aratu, pelo clipe divulgado nas redes sociais. 

A retratação veio depois de a Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro Ameríndia (AFA) registrar denúncia no Ministério Público da Bahia (MP-BA) por ódio religioso.

“Não tenho nada contra o pessoal de matriz africana. Jamais a minha intenção era atingir a eles […] Faltou estudar sobre. A gente não sabia até onde a gente poderia ir. Faltou conhecimento. Mas estamos aí para aprender com os erros. Tenho certeza que não vai acontecer mais. Peço perdão. Nossa guerra não é contra eles”, disse o pastor.

Para a AFA, o clipe dá a entender que religiões de matriz africana são responsáveis por violência e mortes nas comunidades.

Veja trechos da música cantada por Pastor Irmão Júlio:

"Eu profetizo que a Bahia é de Jesus. Não tem Maria Padilha e nem Exu nenhum, meu Jesus manda lá na ilha e também no Costa Azul”;

“Não tem Sete Facadas e nem Orixás, Deus manda na Timbalada e também no Ogunjá";

"Não tem Iemanjá, Deus manda em Bom Juá e na Saramandaia. Não tem Exumaré e nem Exum Caveira, Deus manda em São Tomé e também na Engomadeira";

“Para trás da cruz, eu profetizo que a Bahia é de Jesus”.

O vídeo já foi retirado do ar.

O CASO

Adeptos do Candomblé se sentiram ofendidos com a canção e clipe, que tiveram bastante repercussão nas redes sociais. Um dos que reclamaram do vídeo e música foi o pai de Santo William, que foi à uma Delegacia de Salvador prestar queixa na quinta-feira (14/7).

"A gente do candomblé vem sendo atacado. O clipe traz uma imagem que associa nossos orixás como criminosos. Isso é intolerância criminosa. Precisamos que alguém olhe pela gente [...] Isso dói a nossa alma. A gente tem que clamar por Justiça. Sou babalorixá e vídeo mostra tiros e armas. O que é isso?", disse, ao programa Cidade Aratu.

As imagens mostram vários atores, simulando serem traficantes em confronto com outras facções. Em determinado momento, um grupo, também em simulação, chega, como se fossem policiais. O que chama a atenção é que o veículo utilizado na produção é semelhante aos usados pelas Polícias Militar e Civil da Bahia.

O pastor, na ocasião, desculpou-se pelo clipe e disse que retirou de suas redes sociais. "Depois que ele viu a repercussão do vídeo, ele fez questão de zombar. Levar a palavra de Deus colocando ódio? Nossos orixás e o povo clamamos Justiça. Estamos sendo associados ao tráfico", reclamou pai William. 

INFLUENCERS RECLAMAM

Dois influenciadores que participaram do clipe produzido por Júlio  disseram que não sabiam da letra musical que seria colocada na produção. Dhonys Santos e "Ene Índia" - que se declara adepta de religião de matriz africana - também falaram no programa Cidade Aratu. 

"Fomos chamados para fazer uma gravação. Não tomamos conhecimento de qual música seria colocada. Ontem, por volta de 14h, eu soube por sites de fofoca. O pessoal estava mandando para mim, dizendo que eu estava compactuando. Sou da matriz africana e minha família é. Sempre respeitei todas as religiões", ressaltou Ene.

"Ele mexeu comigo, pois eu estava na gravação. Citou o nome dos meus exus, que estavam ali. Isso me dói bastante", completou "Ene Índia", que também repudiou a atitude do pastor por meio das redes sociais. 

Ao lado dela, o também influenciador Donys sustentou que soube do conteúdo quando o vídeo já estava no TikTok do pastor. O rapaz disse ainda ter entrado em contato com o religioso para reclamar. 

"Não teria topado. Não tivemos conhecimento. Se eu soubesse, não iria participar. Só soubemos depois da repercussão. Entrei em contato com o pastor, informando que ali tinha intolerância. Antes, ele pediu um apoio para o clipe, dizendo que iria fazer um clipe apenas para mostrar o que acontece na comunidade", resumiu. 

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA É CRIME - DISQUE 100

A Lei 9.459, de 1997, considera crime a prática de discriminação ou preconceito contra religiões. Sendo assim, ninguém pode ser discriminado em razão de credo religioso. O crime de discriminação religiosa é INAFIANÇÁVEL – o acusado não pode pagar fiança para responder em liberdade - e IMPRESCRITÍVEL, ou seja, o acusado pode ser punido a qualquer tempo. A pena prevista para este crime é de: reclusão por um a três anos e multa.

É possível denunciar crime de intolerância religiosa pelo Disque 100


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